Apesar de ser considerado um marco nos estudos da comunicação na atualidade, muitos pesquisadores conhecem somente uma parte do livro – em geral o capítulo 1, onde o autor tenta definir as novas mídias – ou, ainda pior, reconhecem Manovich somente em citações e em referências bibliográficas. Isso pode ser uma consequência do efeito do tempo, pois um livro publicado em 2002 pode ser tido como velho, quando a abordagem dele é sobre as mídias do presente.
Evidentemente, que passados nove anos, muitas características desses objetos foram modificadas, mas, nesse caso, isso não significa que a obra tenha sido substituída. Por isso, uma dos maiores trunfos desse russo radicado nos Estados Unidos é ter conseguido traçar reflexões que devem ser feitas continuamente quando o foco são as novas mídias. Melhor dizendo, quando o foco é o desenvolvimento das mídias (e, claro, da linguagem) e a relação delas com o homem.
Paradoxalmente, durante toda a leitura, aprende-se muito de história para se entender como foram criadas as condições capazes de alterar os modos como a sociedade produz e consome as manifestações da cultura visual. Para Manovich, as novas mídias estão diretamente envolvidas nisso, pois elas decorrem da evolução tecnológica e também das modificações sociais. Assim, conceitos como interface, interatividade, computação, entre outros, devem ser pensados a partir de como eles estão modificando a percepção da imagem.
Os exemplos utilizados ao longo dos seis capítulos do livro mais a introdução foram colhidos do que se tinha como expressão na época de escrita do texto. Porém, não o deixam datado. Os objetos são analisados para destacar expressões representativas da inclusão da computação gráfica e/ou interativa na fotografia, no cinema, nos games, e tudo aquilo que é visto na composição do mundo virtual nas várias plataformas insurgentes.
É no processo de adaptação ao que é compreendido visualmente, nem sempre na mesma velocidade do desenvolvimento da tecnologia, que as novidades são acrescentadas paulatinamente, em uma negociação entre como as coisas são e como elas podem ser representadas. Depois de diferentes olhares, chegamos ao século XXI e, agora, as novas mídias dependem de algoritmos, funções matemáticas, mecanismos interativos, entre outros, para continuarem sendo realistas aos nossos olhos.
Toda essa passagem não ocorreu sem apresentar contradições, aliás, Manovich é um especialista em apresentá-las, o que torna ainda mais obrigatória a leitura de toda a obra, senão corre-se o risco de utilizar um argumento apresentado pelo pesquisador e, por ele mesmo, negado nas páginas seguintes.
Por @TalitaRampazzo